A flecha e a faca.

A flecha fora atirada de longe
Perfurou a derme,
A epiderme

Lentamente

Atingiu todas as camadas da pele.

Era possível ignorar a dor;
Costumaram chamar de amor
E então deixaram-na aonde estava.
Que estrago poderia fazer
Uma flecha no peito fincada?
Borboletas voando no estômago

Uma indolor dor que eu gostava.

Uma vontade de sorrir pro mundo
De fazer tudo sem pensar muito
De tornar as coisas melhores do que eu imaginara.

O tempo fora passando,
A flecha revelou-se, então, uma faca,
Senti dor, incerteza, mágoa.
E ela avançou sem pena,
Desmantelou minha caixa torácica.

Perfurou um pulmão,
O coração.
A alma.

Não sabia se lutava por ar.
Já não sabia se lutava por chão.
Não queria lutar por nada.

Não queria mais sentir a dor
Dessa ferida cicatrizada.