Disperso

A dispersão se configura
Quando não há foco
Uma amplitude alta
Como estilhaços de uma granada

Há coisas até interessantes,
Mas elas não me seguram
Não me dão sequer um abraço

Ainda podemos abraçar?
Não é contra-indicado?

Talvez isso justifique
Esse tédio,
Essa quebra,
O cansaço

Nada me prende,
Nem a cela que me cerca
Em que eu me cerco

Minha cabeça está dispersa
Porque a falta (do que fazer)
Revela o excesso de sentimentos
Comprimidos na minha cabeça

Tantos que nem sei como sentir
Tantos que não sei como fugir




Eu quero

Eu quero
Por perto
De novo,
Imploro

Me culpa,
Desculpa.
Põe fogo.
Me jogo

Se eu corro,
Socorro.
É céu
Ou inferno?

Mais uma,
Mais duas,
Mais cem vezes
Quero.

O tudo,
O todo
Por pouco
Acaba,
Em transe
Na transa
Me prove
Me rasga

Suas curvas
Estradas
Me dobre,
Me soque.
Me vira
Não para
Um golpe de sorte

Que eu provo
Reprovo
O gosto amargo
Do olho,
Da boca,
Do suor salgado

Se é certo
Ou errado.
É corpo,
Etéreo.

Escolha,
Recolha,
Repita o processo:
Me ame,
Me odeie,
Me sinta.
Te peço

Ou muito
Ou pouco
A falta.
O excesso

Me queira.
Me queira.
Me queria.
Que eu quero

2:37 AM

Estou em casa há pelo menos duas horas,
Você tá na minha cabeça há bem mais tempo que isso
e não saiu até então

Desculpa se isso for over,
queria dizer que a culpa é de uns 3l de cerveja barata,
Mas sei que a culpa é toda minha

Que saudade sem lógica de você

Carta aberta para o amor da minha vida

Querido anônimo,
Fiz expedições pra tua descoberta,
O teu mistério me instigava a revelar quem eras
Minha missão fora desvendar
Sua identidade tão tão secreta
Ouvia-se falar dos teus feitos a todo momento
Tal como os ventos moviam as caravelas
Ou a idade é perseguida pelo tempo.

Por vezes te encontrei em promessas
Sempre fora invisível aos olhos,
Mas presente em todos os outros sentidos
Coisa da minha cabeça, eu digo:
Como posso ter certeza de alguém
Quem nem sei se é de verdade? Insisto.
Sou cético de mais pra acreditar em destino.

Depois de várias idas-e-vindas
Entendi o motivo de ficares no anonimato.
Tens prazer em ser procurado.
Não gostas de ser descentralizado,
Queres atenção que te dão sem nem precisar dar nada em troca
Se ao menos pudesses dar o meu tempo de volta,
(Porque às vezes sinto como se o tivesse perdido.)
Talvez agora eu não estivesse cansado,
Desacreditado
Dos teus feitos tão superiores na vida
Daqueles que dizem o ter encontrado.

Acho que por isso és um anônimo
Só tens sentido na mente de quem te procura.
Queres dos românticos, o coração;
Dos curiosos, a fértil imaginação;
E de quem te busca, a loucura.

Portanto, ser-que-não-sei-quem-é
Eis o meu termo de desistência
Não faço mais questão de te achar,
Duvido até da sua existência.
Quem sabe se eu não quiser te encontrar
(Agora que sei que não és de verdade.)
Tu te inquietas, por pararem de procurar
E revelas tua identidade.

Mantra

Razão, me traga pro chão
Porque o amor nos dá asas,
Mas não nos ensina a voar

Razão, me traga pro chão
Mas faça isso devagarinho
Talvez esteja alto de mais pra pousar

Razão, me traga pro chão
Porque as emoções não se importam
Com o estado que a alma está

Razão me traga pro chão
Não precisa ser tão tímida
Venha antes que a verdade
Com sua abordagem ríspida
Mostre que na realidade
As coisas nem sempre são como a gente queria.

Big Bang

No início, uma lágrima
e mais outra
e outra,
desfez-se em uma gota
e logo surgira um riacho
um rio, eu acho
de sentimentos que me deixavam para baixo
seus afluentes e mananciais
eu não queria mais,
só queria paz
e então amar
o mar, oceano
um irreparável dano
e toda a salgada dor de seus sais
e toda a dureza de seus minerais
preencheram um espaço doloso
- dentro do coração
cobriam um passado caloroso
- um vulcão em erupção
E então formularam-se as leis:
para toda ação, uma reação,
para toda repetição, uma perda de ânimo.
você se fecha em uma camada de ozônio
esperando proteção de tudo que pode dar errado lá fora
Quanto tempo se passou?
Quanto tempo se passou agora?
Será que já chegou a hora?
Ainda existe oxigênio?
Ainda dá pra respirar?
mal posso esperar
pra vida começar a surgir
pro sol começar a brilhar.
Bum! o universo se expandia
deu tanta saudade, quem diria
dos nossos anos-luz de diferença
que eu quase esqueci da gravidade
do que aconteceu com a gente um dia.
Preciso sair da sua órbita
me expulse da sua via láctea
Nosso universo não é mais o mesmo.

Tudo bem

Não sabemos de quem é a culpa quando não há quem culpar
É muito fácil fugir das coisas responsabilizando terceiros por nossos erros
Mas quando os culpados somos nós mesmos...
Aí, então, enfrentamos o desafio de enfrentar...

Te desculpo pelo que fez,
mas não me desculpo por cair nessa mais uma vez.

Tenho um nó na garganta, mas não vale à pena desatá-lo
Que fiquemos bem e achemos graça disso tudo no futuro.