Cara ou coroa


Levanto no meio da madrugada... da manhã... que horas eram, afinal? O quarto está gelado e escuro, a vista demora para focalizar algo e minha consciência parece ter ficado na cama, a campainha estava tocando incansavelmente e, ainda sonolento, abro a porta.
Era você, em pé, inesperadamente na minha frente; na realidade eu já te esperava, queria que estivesse ali; a materialização do que eu sonhara a noite inteira. Parecia que havia se vestido às pressas e ainda assim sua tímida beleza fazia questão de se fazer presente. Recebi um abraço demorado, seu cheiro me trouxe boas lembranças, ouvi sua respiração, seus lábios gelados tocaram minha nuca, caminharam até o pé do meu ouvido e sussurraram “Sentiu saudade?”. Respondi com um beijo lento, intenso e macio; o coração acelerava. Entramos em casa e ninguém sabia o que aconteceria dali em diante ou o que seria de nós, mas, sinceramente, era a ultima coisa que importava. Estávamos ali, a sós, felizes... O que mais precisávamos?
Tentamos conversar no começo, mas o melhor era ficar calado; não queríamos estragar nada, não queríamos justificativa porque ela simplesmente não existia, não fazia o menor sentido. Milhões de pensamentos explodiam na minha mente, um universo se expandia; o nosso universo. Nos despimos e o calor dos nossos corpos já não deixava mais o quarto tão gelado, parecia que era a primeira vez que nos tocávamos, já nem lembrava mais das coisas que não gostava em você. Tudo era multiplicado por mil, éramos um do outro; completava a sua parte mais insensata e você melhorava meu humor. Mais do que isso... Me tornava alguém melhor. Estara saciando ali não só o desejo de prazer, mas de ter com quem contar, com quem eu pudesse dividir o que pensava e a vontade de ser esse alguém para você também. Nossas pernas estavam entrelaçadas, assim como nossas almas, estava amanhecendo e você tinha que ir antes que todos acordassem. Eu não queria te soltar porque não sabia como seria amanhã. Vamos voltar ao que era antes? Vamos evitar o que éramos antes? Essa dúvida certamente me incomodava muito, mas dessa vez, eu resolvi simplesmente ignorar. Nos despedimos com um beijo e um abraço traduzia um “eu te amo” que nossas bocas já não tinham mais coragem de falar.