Feliz ano novo.

Dois mil e onze está acabando
E eu só espero que com ele acabem todas as coisas ruins
Que nem deveriam ter começado.
Vamos deixar os erros no passado
E comemorar o que tiver que ser comemorado.
Que as coisas comecem diferente
Mas que não mudem tanto ao ponto de ficarem irreconhecíveis
Que sonhemos tanto quanto antes
Para realizarmos todos os sonhos que parecerem impossíveis
Que alcancemos os nossos objetivos
Para criamos mais motivos para seguir adiante
Que nos apaixonemos,
Para ter quem esteja ao nosso lado a todo instante

Que você evolua para melhor
Pois não há nada pior
Que viver na mesmice de sempre

Que não nos falte saúde, respeito e sabedoria
Que sempre tenhamos o apoio da nossa família
E que permaneçam os amigos de verdade
Que esse ano seja repleto de felicidade
E que nada nos abale
E que não nos deixemos derrubar
Que permaneça a vontade de lutar,
Que você crie coragem de dizer o que sente,
Que você descubra o que quer realmente
E que não se arrependa de cada segundo vivido
Faça desse ano o escolhido
Para ser o melhor ano da sua vida
E viva...
Como se não houvessem contratempos
Agradeça a Deus, a Buda, a quem for...
E aproveite cada momento.
Que pessoas queridas ao seu lado estejam
E te desejo tudo aquilo que os outros sempre desejam
Quando, sem jeito, te abraçam
E te falam "Feliz ano novo"
Eu espero viver todas as coisas boas que vivi nesse ano que passou
Só que em dobro...

Expectativas.

Às vezes é melhor fingir que tudo vai ser surpresa
Nada planejado para o futuro
É baseado na certeza,
Mesmo que as probabilidades sejam grandes
Ou que as estatísticas apontem um bom resultado,
É comum esperarmos algo melhor que o imaginado
E tudo acabar dando errado.

Quem sabe isso seja proposital
Quem sabe isso melhore o resultado final
Pois quando se cria expectativa
Logo vem a vida te dar um banho de água fria
Para te mostrar que nem tudo vai ser como você queria
Para te ensinar que amanhã é outro dia...

Simplicidade

É engraçado, eu achava que tudo era pouco pra mim,
Que nada era suficiente.
Que as escolhas que eu fizera me deixariam contente.
Mas a vida sempre supreende a gente,
E então eu percebi
Que não precisava ser complexo e complicado,
Que apesar das dificuldades,
Bastavam as pessoas boas ao meu lado
Percebi que você precisa tentar
Para acertar o alvo
Que, apesar das lembranças permanecerem.
Muita coisa muda.
Inclusive você.

E, sabe aquela frase clichê:
"- Ser é melhor que Ter" ?
Não fica tão careta assim
Quando se percebe que na verdade
O maior tesouro está dentro da gente.
O Amor, a família e a amizade
Porque são as coisas que realmente te fazem bem
Porque são as únicas coisas que duram a eternidade

(Tiago Kimura Bentes)

Panorâmica.

Sabe... Olhando daqui de onde estou,
Nem de tão perto, nem de tão longe
Dá pra ver o quanto eu sorria mais,
Ouvia ou falava mais.
Dá pra ver a diferença,
a enorme diferença, aliás
do quão diferente me sinto aqui,
longe do chão, mas tão distante do topo,
Sinto saudade do que está perto
e do que tive que deixar para trás,
Sinto saudade de quem me amava pelo todo
e não só pela parte que eu era eficaz.

Pior que um vazio exorbitante
é lembrar que você não pode voltar atrás
e lembrar que você tem que seguir adiante;
ou não ver que diante dos seus olhos
estão oportunidades brilhantes,
mas nada te interessar.
Nada ser bom o bastante.

Queria voltar a minha rotina
de ser feliz todos os dias
E sair dessa gaiola
que prende a minha liberdade
de dormir mais cinco minutos,
de viver quando der vontade

Como uma conta bancária.

"- O amor é como uma conta bancária.
-Por que?
-Porque você vai usando, vai gastando, até acabar.
-Mas o meu amor é diferente, quando você gasta o dinheiro de uma conta bancária ele acaba. E quando eu falo que te amo, isso aumenta cada vez mais."

E é por isso que eu falo que te amo toda hora e, quando não falo, apenas penso.

Ao mesmo tempo.

Deve haver algo de errado entre a gente,
Porque quando estou com você o dia não passa
E quando percebo, ele simplesmente passou.
E aquela vontade de te ter por perto, mais perto,
Aumenta...
E afugenta qualquer outro tipo de pensamento
Que não envolva você,
Ou seus olhos cor-de-chamar-a-minha-atenção.


Você está me enlouquecendo
E me fazendo bem ao mesmo tempo...
Eu não sei até que ponto chegaremos,
Mas te ver sorrir me faz querer ir sempre em frente

Dezenove porcento.

Realmente não esperava que algumas coisas acontecessem tão rápido
ou que simplesmente acontecessem...

Eu já não sei se você apareceu para melhorar os meus dias
ou para confundir ainda mais a minha cabeça,
Mas seja lá o que você tenha feito para me fazer sorrir tanto
e me deixar sem defesa alguma.
Está funcionando.

Não faço questão de ser o personagem principal do seu livro,
me basta ter alguns parágrafos nas páginas da tua vida
E ter boas impressões. E as piores intenções.
E ótimos momentos.

Saudade.

Precisa mesmo de algum conteúdo aqui?

En busca del Fuego

Não foi surpresa quando o professor de História da Arte passou um seminário sobre o filme "A Guerra do Fogo" para os calouros de Design.
O combinado era levar um DVD virgem para gravar o longametragem, reunir na casa de alguém para assistir e debatermos sobre a arte rupestre, arquitetura e sobre as ferramentas utilizadas pelos protagonistas. Porém, o meu grupo, formado por cinco acadêmicos (bandidos) dedicados e estudiosos, acabou fazendo apenas a primeira etapa definida, deixando o DVD com o material gravado (jogado) guardado dentro da bolsa de alguém que até hoje eu não sei quem é. Os dias foram passando e só me dei conta de que não nos preparamos para o seminário quando a voz baixa e tediosa do professor chamava a minha equipe para se apresentar.

Caos.

Cogitado desde o meu ensino médio, já havia ouvido falar sobre o tema e lido a respeito. Rezei um pai-nosso enquanto rapidamente discutíamos se alguém sabia algo. Nada. Um ave-maria para ter mais sorte e cada um (inventou) lembrou trechos do filme. Rezaria um salve-rainha, se soubesse...
Nervosos, e com uma cara-de-quem-sabe-tudo, estávamos apresentando um seminário completo e detalhado sobre um filme que não vimos.

Era a minha vez de falar:

-...Outro ponto interessante do filme é que ele aborda vários temas como...
-Viu a parte que mostra a origem do vegetarianismo?

O mundo acabou. me senti em dois mil e doze. Queria correr dali, pedir ajuda dos universitários, chutar a cara do maldito que me interrompera e me colocara em tamanha situação.

-Vi, o filme fala também sobre a...
-Como é, então...

Pronto, fora nocauteado pela insistência maligna de um professor que mal explicava o que tinha que explicar e se metia nas explicações alheias.

-Bom... er...
-A parte que uns tigres correm atrás deles, daí eles sobem numas árvores...
-...E eles comem as folhas!
-Isso!

Me senti como se tivesse ganhado na loteria. Enrrolei e falei o que tinha que falar enquanto os outros componentes completavam com o que vinha na cabeça.
O trabalho não foi a melhor coisa do mundo, mas foi satisfatório devido às circunstâncias que mereceu até post com título em espanhol.

Ensurdecedor

-Mãe, tô com fome...
-Filho, Tô surda...

Mudanças.

Os meus dias estão se resumindo a poemas tristes, saudades e necessidade de algo mais.
Coisas boas me acontecem, não tenho nada a reclamar.
Mas algumas coisas estão mudando, e eu não gostaria que mudassem...
Não gostaria que mudassem sem a minha presença...
O tempo foi passando, fatos foram acontecendo
E eu estava nas lembranças, mas somente lá.
Me sinto um estranho num território
Que conhecia como a palma da minha mão.
Me sinto perdendo o melhor da minha vida
Para ganhar algo que eu nem tenho certeza se será recompensador.
Me dói não me sentir mais tão íntimo quanto antes,
não termos aquelas piadinhas internas
Ou pensar em pedir permissão para abrir a geladeira.
Não me sinto mais como a peça principal da sua vida,
Talvez você tenha achado alguma solução para o vazio que eu te deixava,
E isso só aumenta o vazio que você deixou em mim.
Sei que o que sentimos um pelo outro ainda é a mesma coisa
O tempo, a distância e as circunstâncias devem ter alterado a intesidade.
Ainda espero ligar pra você, perguntar as novidades
E só desligar quando me obrigarem
Ou quando os créditos acabarem.
Ainda espero receber notícias suas,
Se errou, acertou,
Se casou... de repente...
Mas não quero ser esquecido, substituído ou ignorado.
Isso foi uma promessa sua. Cumpra.
E isso me deixará satisfeito...

Eu quero...

Eu quero que você me ame,
Que me ame por inteiro,
Que seja verdadeiro
E que não deixe sombra de dúvidas
Ou margens de erro.

Eu quero que você me ame,
Que me ame intensamente
Que os nossos defeitos tornem-se detalhes
Que não viveríamos sem.

Eu quero que você me ame,
Que me ame loucamente...
Que você faça por mim
O que jamais faria por alguém...

Eu quero que você me ame,
Que me ame infinitamente
Ao ponto de não entender o que sente
E, mesmo assim, ter a certeza
De que o que sente por mim é Amor.

Eu quero que você me ame,
Que me ame, simplesmente...

Manauara.

Eis-me aqui, na capital,
Correndo de um lado para o outro
Assim como tudo e todos,
Inventando problemas para resolver,
Compromissos para adiar,
Coisas para fazer...

Sem reparar no mundo,
que agora gira ao meu redor,
Assim como tudo e todos....

Eis-me aqui, na capital,
Cursando o tal do Design,
Que meus pais nem sabem se me dará um bom salário,
Que eu sei que me dará um bom futuro, eu acho.

Acordando às cinco e meia da manhã,
E me perdendo em ônibus errados
para chegar a lugar nenhum,
num emaranhado de ruas que,
de tanto trânsito,
tornou-se intransitável.

Eis-me aqui, na capital
Conhecendo as mesmas pessoas novas de sempre,
Pessoas legais, insisto em destacar,
que eu nem sei se vão fazer tanta diferença
quanto as que eu já conhecia fizeram na minha vida.
Espero que façam. Espero que eu faça algum sentido.

Eis-me aqui, na capital
Procurando algum motivo que justifique
o vazio que ainda sinto por dentro
Porque tenho tudo o que preciso
mas está faltando quem eu preciso realmente.

Manaus, para todos
MAO, para quem já tem intimidade
Infernaus, para os que já conhecem a realidade

Amor. Avassalador.

Eu quero um amor,
Avassalador,
Que me tire do tédio
E que seja o remédio
Para todas as minhas doenças sem cura
Que seja uma justificativa para a minha loucura
De te querer por perto,
De ser o seu eterno
Eternamente... Para sempre.

Eu quero um amor,
Avassalador,
Que me faça sofrer com a tua ausência
E sorrir com a tua presença,
Que faça eu me sentir o melhor do mundo
Com os teus abraços, teus lábios e teus beijos
E me faça esquecer de tudo,
Exceto do quanto você é importante para mim.

Eu quero um amor,
Avassalador,
Que me faça perder o juízo, pensar em suicídio
Que me obrigue a cometer pecados
E alguns pequenos crimes
Estar certo, mesmo estando errado.

Porque quando for,
Avassalador,
Eu sei que será muito melhor que nos filmes
E que nos meus pensamentos.
Quando for,
O Amor,
Eu sei que vai ser verdadeiro,
Porque não serei mais metade de um inteiro.
Serei o tudo de um todo.
Serei completo e completarei.
Sei amado e amarei.

(Tiago Kimura Bentes)

Ame.

Mesmo que seja difícil,
que seja impossível,
ou que não haja saída.
Mesmo que não queira,
que pareça besteira,
ou que não seja a melhor alternativa.

Mas ame...

O amigo, o irmão, a família
O da direita, o da esquerda, a vida.
Só não deixe de amar.
E se você acha que é possível viver sem amor,
é porque não viveu ainda.
Prometa roubar estrelas e outras coisas absurdas
Peça por favor, fuja por amor,
Revolucione... por loucura
Prove que seria horrível ter que esquecer você
E descubra que seria pior ainda ter que esquecer quem se ama
Lembre que o pior arrependimento
é o de não ter feito algo
Então, coragem! Vá em frente!
Tente, mesmo que seja errado
Pois o maior erro
É o de não ter amado.

Suco de uva.

-Tiago, cadê o vinho daqui da geladeira?
-Irc!, ué, irc! não era suco de uva, irc! ?

Barraco Postal.

Sair com os amigos tornou-se um programa comum para estudantes (desocupados) de férias como eu, já estava acostumado a passear pelas pacatas ruas parintinenses sem destino e parar nos mesmos lugares de sempre. A vontade de comer algo doce fez eu obrigar minha amiga a estacionar em um posto de gasolina para comprarmos alguma besteira na loja de conveniências.

-Com licença...

Um senhor que provavelmente trabalhava no posto bloqueava a porta e tive que insistir para me dar passagem. Embora a fachada da loja fosse toda de vidro, não percebi a atendente e o único cliente enfurecidos.
Entro, dou um "-Boa noite" e, sem resposta, sigo até as prateleiras. A atenção dos seres vivos no recinto logo se desviaram de mim e um bate-boca que parecia ter começado horas atrás é retomado sem se incomodar tanto com a minha presença.
Demorei a escolher o que queria de propósito, a curiosidade me levara a querer entender o que estava acontecendo.

-Vamos, Tiago! Escolhe qualquer coisa aí...

A voz dos meus amigos tentando me apressar era quase imperceptível devido ao alto tom em que a discussão entre cliente-e-funcionária estava, salvo os puxões que me davam em direção a porta. Depois de ter entendido o motivo de tanta gritaria, escolhi uma barra de chocolate qualquer e me dirigi ao caixa...
O cliente bebadamente alterado cambaleava ora em direção a porta, ora em direção nenhuma, e, com muito esforço conseguira sair do estabelecimento, a moça já produzia as primeiras lágrimas no rosto e então uma outra funcionária surgiu do nada e começou a xingá-la com palavras do mais baixo calão.

-Boa noite - tentei novamente
-Boa noite - A moça de pele já avermelhada pelo nervosismo respondeu de cabeça baixa

Como se já não soubesse, perguntei a ela o que havia acontecido para então confirmar o que já percebera. O rapaz entrou, bebeu e não pagou. Perguntei quanto fora o prejuízo e me surpreendi com o valor extremamente baixo gerador de tamanha confusão

-Acrescenta no valor do chocolate que por mim fica tudo bem.

Pedi que ficasse calma e saí dali indignado com a ousadia do bêbado, com a ignorância da "colega de trabalho" (nem sei se ela ainda a chama assim) que piorou a situação e com a forma que algumas pessoas acham que podem tratar as outras...

Corrida.

Me parte o coração ver que você está sorrindo tanto sem mim por perto.
Espero não ter caído no esquecimento, porque você não sai dos meus pensamentos um segundo sequer. Nunca irá sair.
Se eu pudesse ou fosse louco o suficiente, largaria tudo e seguiria em frente com você, por você.
O pior é que eu já sabia que seguiríamos caminhos opostos, então por que eu me torturo? Por que eu acho que tudo tem haver contigo e que o mundo se resume no teu sorriso?
Me parte o coração ver que você sobrevive sem mim por perto.
Porque eu estou andando por andar, você não está mais na linha de chegada, então, que graça terá a corrida da vida quando todos os obstáculos passarem?
Prêmio nenhum me motivaria a correr tanto quanto antes,
Prêmio nenhum me faria feliz no fim,
Prêmio nenhum vale o que você vale pra mim.

Sem siso, sem juízo.

Estou desde meados do século passado adiando a consulta no dentista para extrair dois sisos e um dente supranumerário que teimou em nascer somente para atrapalhar a minha vida. Desculpas como "- Tenho provas" ou "- Tenho seminários" esconderam o real motivo d'eu adiar tanto a extração do "dente do juízo".

"- Tenho medo..."

Não de dentista, mas sim da dor que alguns amigos da faculdade disseram que eu sentiria, afinal, ficar três semanas sem comer direito com constantes dores insuportáveis e jorrando sangue pela boca exige um intenso preparo psicológico.
Chego no consultório e preencho uma ficha clínica enquanto as recepcionistas bem arrumadas discutiam sobre a vida alheia. Em poucos minutos já estava dentro da (sala de tortura) pequena sala onde o simpático dentista realizaria a operação.

"-Você não vai sentir nada..."

E realmente não senti, a operação foi rápida e nem vi o tempo passar. A tarde fora uma maravilha até o dormente efeito da anestesia acabar. Uma dor e um drama maior ainda deixou minha mãe preocupada enquanto eu me afogava em litros e mais litros de sorvete por (divina) recomendação do odontólogo.
No dia seguinte acordei com a bochecha thunder-thunder-thunder-inchada e apelidos foram inevitáveis durante a comemoração do aniversário da minha irmã.

"-Kiko!"

Era meu pai me chamando... Até ele... Queria me jogar do segundo andar, me trancafiar no quarto, pensei em me enterrar, mas tinha medo que a minha gigante bochecha maior-que-a-do-fofão ficasse para fora... O cardápio era o mais variado e, devido a dor, não pude comer a lasanha, o strogonoff, o filé, senão uma sopa de verduras batida no liquidificador.
Alguns dias já se passaram e a minha alimentação resume-se em sopa, remédios e iogurte , estou louco para comer algo que precise ser mastigado, mas aí PÁ!... Eu lembro que ainda falta arrancar o outro siso...

Eu passei no vestibular.

-O resultado sai amanhã, duas horas!

Foi essa a frase que me fez dormir mal e acordar com uma ansiedade infinita. Depois de três longos anos de espera e queima de neurônios, a lista de aprovados do Processo Seletivo Contínuo finalmente estara há poucas horas de ser divulgada.
As batidas do meu coração aumentavam juntamente com o meu nervosismo enquanto a velocidade da minha internet teimava em se igualar aos salários: mínimos. "E se eu não passar?", "Minha pontuação não foi muito boa", um agonizante pessimismo tomava posse de minha mente agora, o microblog mais usado do mundo me permitia ver que não era o único a estar no completo caos.
Rezava para que o resultado saísse antes que tivesse um infarto e para que o meu nome estivesse dentre os listados no curso de Design.
Uma contagem regressiva imaginária foi feita e às exatas duas horas reabri a página inicial da COMVEST, porém o que eu procurara só fora divulgado às duas e quartorze.
Pensei em roer as unhas enquanto a janela que mudaria a minha vida carregava, mas não sobrara nenhuma, todas já haviam sido trituradas por dentes, agonia e ansiedade.

-Passei!

Espalhei a boa notícia pela casa toda, falava alto, queria que os vizinhos ouvissem. A vontade era de divulgar que "Tiago Kimura Bentes passou no vestibular" para o mundo todo. E aos que acham que a felicidade é invisível, eu a vi. Eu a vi estampada no meu rosto, na voz trêmula de familiares que ligavam para me dar os parabéns e mesclada com orgulho nos olhos dos meus pais, ora convertida em lágrimas, ora em sorrisos.
Logo combino com os amigos de fazer um passeio e às seis e pouco já estávamos reunidos e subindo num trenzinho que tocava músicas infantis.

-Moço, o senhor pode colocar a faixa 10 desse CD?

O simpático colombiano finalmente entendera o que falamos depois de muita insistência. Todos a postos, o condutor dá um "play" na música e no nosso passeio também.

"- Alô, papai, alô, mamãe, bota a vitrola pra tocar. Podem soltar foguetes porque eu passei no vestibular"

A marchinha ficou na cabeça, não fora preciso muitas repetições e logo todos estavam cantando o mais alto que podiam. O veículo era lento e as pessoas por quem passávamos acenavam ou simplesmente riam de nossa loucura. A alegria era tanta que ninguém se importava com a voz que ficara rouca ou com o que os outros iam pensar dos mais novos calouros da Universidade Federal do Amazonas.
Ao fim da farra, convido outros amigos para lanchar e eu fiz questão de falar pro garçon:

-Eu passei no vestibular.

Preguicite Gripal.

Não se faça de desentendido que você conhece essa doença muito bem!
Caracterizada com sintomas do tipo "querer ficar deitado o dia inteiro sem fazer nada", a preguicite assola crianças, idosos e (principalmente) jovens. Leves dores de cabeça acompanhada de uma moleza descomunal obrigam o enfermo a ficar na cama por tempo prolongado e a cancelar todos os compromissos do dia (com exceção das farras).

- E comigo não foi diferente!

Os primeiros sintomas apareceram enquanto eu arrumava o quarto, mas o caso complicou de verdade quando me convidaram para malhar. Uma crise de cefaléia e um frio que fazia doer os ossos me impediram de aceitar o convite dos meus amigos.
Já tomei remédios e mais remédios, um com o nome mais complicado que o outro, mas eu acho que a real cura para a "preguicite gripal" seria caseira, simples e definitiva.
Repouso, repouso e mais repouso...

Amazon Village

-Vamos para a vila Amazônia amanhã?

E foi assim, de um segundo para outro que eu e mais três amigos resolvemos conhecer e nos aventurar nas trilhas de uma pacata vila próxima à ilha de Parintins.
Depois de mil chantagens emocionais, convenço minha mãe e durmo cedo para estar às seis e meia (da madrugada) no local de encontro combinado. Por pouco não perdemos a balsa que nos levaria ao nosso destino em quarenta minutos e chegamos na Amazon Village necessitados de aventuras, risos e gasolina.
Após abastecermos as duas motos, atravessamos as estradas - ora asfaltadas, ora não - a muitos quilômetros por hora e logo achamos trilhas e mais trilhas cheias de bifurcações e encruzilhadas. O pouco espaço aberto entre a mata era o suficiente para passarmos; a areia, as pedras e outras irregularidades do trajeto faziam as motos derraparem constantemente e o nosso cuidado triplicar. A paisagem que misturava os diversos tons de verde das árvores com o azul do céu era iluminada pelos raios de sol que queimavam nossas peles encharcadas de protetor solar. Vez ou outra tínhamos que abaixar a cabeça para não bater em algum galho de árvore mais baixo ou para passar nas pequenas porteiras abertas entre cercas que delimitavam terrenos. Não tínhamos destino nenhum, senão o objetivo de conhecer cada "esquerda ou direita" das bifurcações e cada paisagem que a natureza montou.
Seguíamos nosso caminho até que chegamos no que teoricamente seria o final, uma casa.
Sem tempo para dar a volta no estreito pelo qual passamos uma senhora enfurecida perguntava o que estávamos fazendo ali como se fosse roubar nossas almas invasoras de territórios. Após sussurrar algo como "Vou te ensinar a mentir", meu amigo enche o peito de coragem e cara-de-pau e pergunta:

-Aqui é a casa do seu Zé da macaxeira?

A vontade de rir era contida com pequenas crises de tosse, a senhora não entendia muito bem o que acontecera.

-A casa do seu Zé é por aqui?
-Não, não - a mulher caíra em nossa mentira
- Tem alguma outra casa por perto?
-Tem a do Seu Paulo nos fundos

Foi então que meu amigo virou o rosto para mim e disse "Eu acho que pegamos o caminho errado então.".
Não sabia o que era maior, a vontade de voltar imediatamente para as trilhas ou a de rir sem parar da situação pela qual passávamos. O restante do caminho fora cheio de gargalhadas e piadinhas até que, às onze e pouco, quem pediu combustível fora o nosso estômago.
Comemos e logo estávamos subindo na moto novamente para voltar ao trajeto.

-Vamos passar pela "Costa do Camelo"?

Tratava-se do nome de uma parte da estrada, e eu só entendi porque fora batizada assim quando chegamos lá. Uma série de depressões agudas e planaltos absolutos formavam um sobe-e-desce tal qual as costas do animal, a sensação de passar por lá na velocidade cinco que a moto nos permitia pode ser comparada, sem dúvida, a de estar numa montanha russa. Logo as estradas de pedras e areia ficavam cheias de buracos, poças de lama e poeira. Paramos numa bifurcação e esperamos nossos amigos que vinham logo atrás.

-Ainda não chegaram?

Não sei ao certo quanto tempo passara, mas já era o suficiente para terem nos alcançado. Preocupados, resolvemos voltar e ver se algo havia acontecido... Nada. Haviam sumido.
O desespero subia a cabeça e eu entendi porquê as mães brigam com os filhos quando eles se perdem, a agonia de perder alguém é horrível. Fomos e voltamos pelo mesmo caminho três vezes, achava que alguém tinha os assaltado, que estavam jogados no meio do mato, pensei até em abdução, pois não havia como sumir de uma estrada sem ninguém perceber... Foi então que resolvemos perguntar para as pessoas que moravam nas margens da estrada.

-Eu os vi sim, foram em direção a vila...

Alívio. Voltamos mais rápido que antes, mas passar pelas "costas do camelo" não fora mais tão empolgante quanto fora na ida. Chegamos na vila e os encontramos sã e salvos. Haviam nos perdido de vista e voltaram por não conhecerem o caminho. Eram três horas, e a balsa que nos levaria de volta já havia saído no momento em que decidimos retornar à Parintins.
Como a próxima só chegaria duas horas depois, resolvemos retornar até um igarapé que encontramos numa das trilhas, as águas geladas e cristalinas logo fizeram todo estresse ser esquecido e a vontade de ficar mais prolongar-se até as quatro e meia.
Chegamos em Parintins e todo o cansaço era transformado em risadas enquanto voltávamos para casa. O corpo marcado pelo sol, e as roupas sujas de lama davam a leve aparência de que fomos resgatados da selva.
O convite para chamar mais gente e repetir a dose ficou pendente e certamente será aceito na próxima.