Amazon Village

-Vamos para a vila Amazônia amanhã?

E foi assim, de um segundo para outro que eu e mais três amigos resolvemos conhecer e nos aventurar nas trilhas de uma pacata vila próxima à ilha de Parintins.
Depois de mil chantagens emocionais, convenço minha mãe e durmo cedo para estar às seis e meia (da madrugada) no local de encontro combinado. Por pouco não perdemos a balsa que nos levaria ao nosso destino em quarenta minutos e chegamos na Amazon Village necessitados de aventuras, risos e gasolina.
Após abastecermos as duas motos, atravessamos as estradas - ora asfaltadas, ora não - a muitos quilômetros por hora e logo achamos trilhas e mais trilhas cheias de bifurcações e encruzilhadas. O pouco espaço aberto entre a mata era o suficiente para passarmos; a areia, as pedras e outras irregularidades do trajeto faziam as motos derraparem constantemente e o nosso cuidado triplicar. A paisagem que misturava os diversos tons de verde das árvores com o azul do céu era iluminada pelos raios de sol que queimavam nossas peles encharcadas de protetor solar. Vez ou outra tínhamos que abaixar a cabeça para não bater em algum galho de árvore mais baixo ou para passar nas pequenas porteiras abertas entre cercas que delimitavam terrenos. Não tínhamos destino nenhum, senão o objetivo de conhecer cada "esquerda ou direita" das bifurcações e cada paisagem que a natureza montou.
Seguíamos nosso caminho até que chegamos no que teoricamente seria o final, uma casa.
Sem tempo para dar a volta no estreito pelo qual passamos uma senhora enfurecida perguntava o que estávamos fazendo ali como se fosse roubar nossas almas invasoras de territórios. Após sussurrar algo como "Vou te ensinar a mentir", meu amigo enche o peito de coragem e cara-de-pau e pergunta:

-Aqui é a casa do seu Zé da macaxeira?

A vontade de rir era contida com pequenas crises de tosse, a senhora não entendia muito bem o que acontecera.

-A casa do seu Zé é por aqui?
-Não, não - a mulher caíra em nossa mentira
- Tem alguma outra casa por perto?
-Tem a do Seu Paulo nos fundos

Foi então que meu amigo virou o rosto para mim e disse "Eu acho que pegamos o caminho errado então.".
Não sabia o que era maior, a vontade de voltar imediatamente para as trilhas ou a de rir sem parar da situação pela qual passávamos. O restante do caminho fora cheio de gargalhadas e piadinhas até que, às onze e pouco, quem pediu combustível fora o nosso estômago.
Comemos e logo estávamos subindo na moto novamente para voltar ao trajeto.

-Vamos passar pela "Costa do Camelo"?

Tratava-se do nome de uma parte da estrada, e eu só entendi porque fora batizada assim quando chegamos lá. Uma série de depressões agudas e planaltos absolutos formavam um sobe-e-desce tal qual as costas do animal, a sensação de passar por lá na velocidade cinco que a moto nos permitia pode ser comparada, sem dúvida, a de estar numa montanha russa. Logo as estradas de pedras e areia ficavam cheias de buracos, poças de lama e poeira. Paramos numa bifurcação e esperamos nossos amigos que vinham logo atrás.

-Ainda não chegaram?

Não sei ao certo quanto tempo passara, mas já era o suficiente para terem nos alcançado. Preocupados, resolvemos voltar e ver se algo havia acontecido... Nada. Haviam sumido.
O desespero subia a cabeça e eu entendi porquê as mães brigam com os filhos quando eles se perdem, a agonia de perder alguém é horrível. Fomos e voltamos pelo mesmo caminho três vezes, achava que alguém tinha os assaltado, que estavam jogados no meio do mato, pensei até em abdução, pois não havia como sumir de uma estrada sem ninguém perceber... Foi então que resolvemos perguntar para as pessoas que moravam nas margens da estrada.

-Eu os vi sim, foram em direção a vila...

Alívio. Voltamos mais rápido que antes, mas passar pelas "costas do camelo" não fora mais tão empolgante quanto fora na ida. Chegamos na vila e os encontramos sã e salvos. Haviam nos perdido de vista e voltaram por não conhecerem o caminho. Eram três horas, e a balsa que nos levaria de volta já havia saído no momento em que decidimos retornar à Parintins.
Como a próxima só chegaria duas horas depois, resolvemos retornar até um igarapé que encontramos numa das trilhas, as águas geladas e cristalinas logo fizeram todo estresse ser esquecido e a vontade de ficar mais prolongar-se até as quatro e meia.
Chegamos em Parintins e todo o cansaço era transformado em risadas enquanto voltávamos para casa. O corpo marcado pelo sol, e as roupas sujas de lama davam a leve aparência de que fomos resgatados da selva.
O convite para chamar mais gente e repetir a dose ficou pendente e certamente será aceito na próxima.

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